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Economia está em recuperação e desafio é resgatar a confiança
Um país com 12,7 milhões de desempregados – quase 90% mais do que havia na véspera da última eleição. Esse número dá uma ideia da dimensão do problema econômico que o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) vai herdar. Apesar de economistas apontarem avanços nos fundamentos econômicos no Brasil desde 2014, a melhora está longe de ser percebida pelos brasileiros, que também viram seus rendimentos estagnarem nos últimos quatro anos.
O que deu um alívio desde as últimas eleições presidenciais foi a tendência dos preços. A inflação passou de 6,75%, em setembro de 2014, para 4,53%, hoje. Mas, no período, chegou aos 11%. “A inflação está baixa, mas por um motivo ruim: a ociosidade da economia está muito elevada”, diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. “A percepção da maior parte da população é muito ruim. É o espelho da situação do mercado de trabalho.”
O economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, lembra que, além do desemprego, a percepção de que os serviços públicos são de baixa qualidade também influenciou o humor dos eleitores nestas eleições. “O desemprego elevado, a corrupção e o serviço público ruim criaram a demanda por uma mudança na política”, diz.
Mesmo diante da deterioração da qualidade de vida da população, há uma recuperação em curso e, segundo economistas, não será muito difícil para o novo presidente manter essa tendência. “A foto da situação atual pode ser pior que a de 2014, mas o filme é melhor. Em 2014, estávamos entrando em uma recessão. Agora, há uma melhora gradual”, pondera a economista Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia, da FGV.
O economista Silvio Campos, da Tendências Consultoria, explica que, em 2014, havia uma série de desequilíbrios que hoje não existem mais, como a inflação mantida artificialmente baixa com o controle do preço de energia e o déficit nas contas externas.
Para manter a tendência de retomada e, finalmente, impulsionar o mercado de trabalho, porém, será preciso recuperar a credibilidade entre os empresários e reformar a Previdência. A reforma teria um efeito indireto, pois criaria espaço para o Banco Central manter a taxa de juros em um patamar baixo – já que a tendência de aumento da dívida seria interrompida, fazendo com que os investidores aceitem juros menores para emprestar ao governo.
Do lado da credibilidade, a questão é mais política do que técnica, diz Borges. “(Manter parte da) equipe econômica atual ajudaria. Mas querer reinventar a roda prejudica.” Segundo o economista, seria melhor dar continuidade às reformas que já foram iniciadas, como a proposta de Michel Temer para a Previdência, do que iniciar um debate do zero – o que atrasaria a implementação.
“Está nas mãos do próximo presidente manter a recuperação gradual ou estragar tudo”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Ele também diz estar preocupado com a possibilidade de Bolsonaro dar prioridade a questões como o porte de arma e a maioridade penal. “Não temos tempo a perder. Se começar a focar nisso ou vier com proposta estapafúrdia que não consegue aprovar no Congresso, vamos pelo buraco.”
Ainda que Bolsonaro consiga acertar na fórmula econômica, as projeções indicam que o País levará, pelo menos, mais dois anos para voltar ao nível de “normalidade”. Para o Banco Votorantim, a taxa de desemprego natural do Brasil é de cerca de 9%, patamar que não deve ser atingido antes de 2020. Silvia Matos acrescenta que, mantendo uma taxa de crescimento de 2% ao ano, serão necessários mais 11 trimestres, ou quase três anos, para o PIB alcançar o patamar de 2014.
Fonte: Estadão