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País gasta R$ 480 milhões por ano com motores elétricos obsoletos
Um estudo conduzido pela PUC-Rio e pelo Instituto Brasileiro de Cobre (Procobre) estima que o país perde R$ 480 milhões anualmente com o uso de motores elétricos reformados. O estudo leva em consideração o fato desses motores não cumprirem índices mínimos de eficiência definidos pela Portaria N488 do Inmentro, publicada em 2010 e que trata do funcionamento e do gasto energético adequados desses equipamentos.
O estudo estabelece uma relação direta com a Portaria Interministerial (nº 29, de 26 de janeiro de 2017) que entrou em vigor dia 31 de agosto deste ano e que determina o IR3 Premium como o nível mínimo de eficiência aceitável para motores elétricos trifásicos novos ou recondicionados. A nova regra aproxima o Brasil de países vanguardistas no quesito eficiência energética e traz uma atualização à indústria nacional.
A Pesquisa Mercadológica Sobre Motores Recondicionados estima a quantidade de motores elétricos reformados presentes no mercado nacional e avalia o balanço de perdas em razão do uso desses equipamentos obsoletos. Presença garantida na indústria, os motores elétricos utilizados em processos industriais dos mais diversos – de ventiladores a bombas hidráulicas – são responsáveis por 25% de toda a energia consumida no país.
A pesquisa foi realizada em cinco estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia, e abordou 40 retíficas de motores selecionadas por amostragem. Trata-se do maior levantamento do gênero feito no Brasil e busca um entendimento mais aprofundado de dois mercados: o de serviços de reparo de motores e o de motores reformados que voltam à atividade nas indústrias.
Ao disponibilizar informações sobre o recondicionamento de motores e o desperdício de energia representado pela baixa eficiência dos motores reformados, o estudo oferece ao empresariado a possibilidade de ponderar o custo-benefício de aquisição de equipamentos reformados versus novos. Seus resultados vêm também ao encontro dos interesses do MME (Ministério das Minas e Energia) e do grupo de trabalho do Comitê Gestor de Indicadores de Eficiência Energética (CGIEE), do qual o Procobre faz parte.
Parque de motores retificados chega a 90%
Segundo o estudo, o parque de motores brasileiro é formado por cerca de 90% de motores retificados. Em números, o total de motores trifásicos existentes no país soma mais de 20 milhões de unidades. Dessas, apenas 10,6% são motores novos produzidos no Brasil, com menos de quatro anos de uso.
Em uma primeira pesquisa, conduzida em 2014, a PUC-Rio e o Procobre já haviam constatado uma queda acentuada no mercado de motores novos (nacionais ou importados) em detrimento dos motores recondicionados, representando na época uma perda de eficiência energética de 7 TWh para o país. “O cenário piorou sensivelmente. Passados pouco mais de quatro anos, a perda energética cresceu quase 20%, chegando a 8,43 TWh ao ano, o que seria suficiente para abastecer 4,5 milhões de moradias. Para os empresários, donos de indústrias, esse montante de energia ao custo total das tarifas aplicadas pelas distribuidoras equivaleria a uma perda de R$ 4,5 bilhões”, enfatiza Glycon Garcia, diretor executivo do Procobre.
Retíficas pequenas, sem estrutura, são maioria
Quanto ao total de empresas brasileiras retificadoras de motores, a pesquisa reportou 6,5 mil, sendo que mais de 5,5 mil (86%) são empresas de pequeno porte. Outras 849 (13%) são de médio porte e 70 (1%) são grandes empresas. Entre as pequenas, a maioria (quase 60%) oferece serviços de baixa qualidade, tem estrutura precária e há falta de qualificação ou treinamento profissional dos funcionários.
Economia duvidosa
O estudo também se propôs a mostrar o grau de conhecimento dos empresários quanto à aquisição de equipamentos reformados e à perda de eficiência energética desses motores quando comparados a motores novos, como os da categoria premium, de alto rendimento. “Ficou claro pelo estudo que a manutenção de motores antigos está atrelada à diferença de custo entre mandar recondicionar ou comprar um motor recondicionado e adquirir um motor novo, sem pesar o gasto energético dos equipamentos”, avalia Calili. “Ainda que, à primeira vista, o preço mais barato seja mais atrativo, os motores obsoletos possuem eficiência comprometida, vida útil curtíssima e consumo energético excessivo, o que acaba encarecendo o motor reformado”, sustenta o professor da PUC-Rio.
Estima-se que a cada recondicionamento de um mesmo motor ocorra a perda de 2% do seu rendimento e que o total de motores recondicionados seja responsável por 2,8% da emissão de gases de efeito estufa (GEE) liberados na atmosfera só no Brasil. O estudo aponta também que cada 1% de perda de energia evitada geraria uma economia R$ 16,2 milhões em investimentos de expansão pelas concessionárias.